Da rua que não é pintura
Que não tem ponto de fuga
Ladrilhada com crianças de brilhantes
Qual diamantes no meio fio
O pátio do colégio
Fez da calçada berço
O asfalto lambe os beiços
No vão de papelão dos que pariu
A casa praça, telhado céu
Um deslugar para chamar de seu lar
Viver a Deus dará, lá no quintal da Sé
É de perder a fé
Sem tato, sem teto, sem tipo
Sono breve chapiscado pelo brilho
Da Lua piscando verde, amarelo, vermelho
Sangue latino
Ferve de manhã
Quando o Sol despertador
Bate na cara
Ao som do toque de recolher
Latinha, garrafa, papel
Pra sobreviver
Matando a sede na enchente
Recreação no logradouro
Sem endereço
Ao som do toque de recolher
Refugiados do recôndito SP
Contrariando a inexistência
Os meninos da rua Paulo
Ainda são
Se essa rua, se essa rua fosse minha
Eu mandava, eu mandava costurar
Com as linhas, com as linhas de barbante
Para o meu amor deitar